Carlos chega perto de Mariana abruptamente, olha em
seus olhos e diz:
_ Preciso te falar uma coisa muito séria.
_ Fala.
_ Presta atenção, porque é serio.
_ Fala.
_ Não...
(Silêncio.
Eles se entreolham.)
_ Senta. – fala Carlos.
_ Sentei, fala logo !
_ Mariana, eu preciso saber de uma coisa.
_ Faala Carlos.
_ Mariana, você vai no meu enterro ?
_ O que ?
_ Eu quero saber se você vai no meu enterro ?
_ Como assim, no seu enterro? Sei lá... É claro que eu vou. Quando é ? Quer dizer, que história é essa ?
_ Não Mariana, eu preciso saber se você vai. Se você não vai esquecer, arrumar
alguma desculpa e não ir, você sabe, você é tão ocupada, eu tenho medo.
_ Carlos, você devia ter medo é da morte e não da
minha ausência ou presença no seu enterro!
_ Eu sei Mariana, mas a morte já está implícita,
agora o meu enterro, eu preciso que seja , assim oh, com você lá. Você vai, promete que vai. Jura
? Jura ?
_
Tá juro. Quer dizer. Sei lá Carlos. Eu não sei nem se estarei viva no seu
enterro. Como é que eu vou saber
que estarei viva? Primeiro, como é
que eu vou saber se eu não vou morrer com você ?
_ Como assim? Será que ainda por cima essa ! Além de passarmos a vida toda juntos,
Deus ainda vai colocar agente morrendo junto ?
_ Pó pera aí, você está reclamando? Por que? Não
está gostando? Separa logo!
_ Não é isso meu amorzinho, vem cá. Olha, agente
não pode se separar até a morte, entendeu? Eu preciso de você no meu enterro.
_ Ai, tá bom, eu vou. Mas não fala mais em morte
não, ta? Você ainda tem 40 anos.
_ Eu sei mas é que eu fiquei pensando nisto
hoje. Você é tão desligada. Eu fico com medo de eu morrer e você
esquecer de ir ao meu enterro.
Cagar. Sei lá... estar
fazendo as unhas e de repente se lembrar que esqueceu que eu morri e que você
tinha o meu enterro.
_ Carlos, como é que eu vou saber se a gente vai
estar junto até a sua morte? E se
de repente e gente se separar ? Você morre daqui a uns 40 anos? Porque é o normal, não ? Hoje em dia todo mundo vive até os 100! Mas os casamentos não duram nem um
terço disso. Pois então, como é que eu vou saber, caso você morra depois da
gente já ter ser separado, como é que eu vou saber da sua morte ?
_ Você não lê o jornal ? Pelo obituário do jornal. Você tem que me jurar que assim que a gente se separar você
vai ler sempre o obituário do jornal e prestar bem atenção para ver se eu morri.
_ Ah... então você quer se separar de mim? É isso?
Esse papo todo é pra dizer que nosso casamento acabou! Por que você não é mais
direto, Carlos?
_ Não é nada disso... Eu não vou me separar de você
até que a morte nos separe.
_ A gente não casou na Igreja, Carlos. Esse lema
não vale pra nossa relação.
_ Viu como você está fugindo? Você sempre foge dos
compromissos mais importantes da nossa vida!
_ Tá bom, seu bobo. Quando você morrer eu juro que vou ao seu enterro.
_ Vai de preto.
_ Tá.
_ E vai chorar muito no caixão. Mas assim, escandalosamente.
_ Tá, tá bom.
_ E vai segurar a alça do caixão !
_ Ah pera aí , assim você tá querendo demais! Cara,
e se você estiver gordo e pesado ?
_ Eu juro que não vou estar gordo.
_ Ah, você quer emagrecer ? Então porque você não
emagrece agora em vida ? Você esta
um pouco gordinho.
_ Jura ?
_ É.
_ Mariana, você está querendo o divórcio?
_ Não, Carlos... Só estou dizendo que você está
gordo...
_ Você não me ama mais, é isso?
_ Gente mais o que está acontecendo aqui? Você foi
na sua terapia essa semana?
_ Ela está de férias...
_ Bem vi, Carlos! Olha, me deixa em paz um
pouquinho, ta? Não sei nem como terminar essa nossa conversa...
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