RIO+20

Olho nos olhos enquanto ando pelas ruas. Percebo estranhos buscando em mim uma referência que não existe. Não somos iguais. Deus se enganou. Não me compare. Não me faça de compadre. Não há padre. Sou incrédula. Só quero liberdade. Poder ser quem eu sou. Simples. Sem referências ou comparações.

Busco a pausa. Espaço. Silêncio. Isso basta. Dividiram o mundo em metros quadrados e me designaram uma pequena parte para sobreviver. Não consigo respirar neste quadrado. Tento entender para que lado deva girar. Mas é quadrado. Quadrado não gira. É reto. Não caibo. Não me enquadro.

O sujeito segue feliz. Ele pensa? O bom lugar sempre faz sol. Ele existe?

Liberté, Egalité, Fraternité. Que te diz? O silêncio é a ideologia do século XXI. Estar em silêncio diante do silêncio. Estar só – sozinho. Estar em silêncio. O conforto da solidão. Estar só – sozinho. Como silenciar meu pensamento? Freud nunca explicou.

Mamãe me deixou chorar. Amamentou-me até onde pode porque tinha que sair para trabalhar. Conquistar nosso metro quadrado. O choro quebrou meu corpo. O silêncio me trouxe dor. A solidão me fez crescer. De maneira estranha.

Tenho um nódulo no meio do pé. Ando torta. Piso na terra fofa e sinto algum equilíbrio. Mamãe me deu botas de solas grossas. Não me corto. Elas sufocam meu silêncio. Eu deixo de existir.

Ia virar planta. Desvendar os segredos do mundo. As solas de plástico bloquearam minha comunicação com o mundo. Quem sabe minha alma. Ia falar com Deus. Mandar ele se fuder. Não consegui. Mas e daí? Sou planta. Respiro e cresço por todos os lados.

A fraternidade e igualdade se venderam ao mundo moderno. Resta a liberdade. Último oxigênio. Nem todos entendem a nova revolução!