gravidez

ops! engoli uma pérola!

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i-Mundo

Julgamento

Não sou blasé! Só estou ocupada com os meus pensamentos!

São Longuinho

Perdi a fala e meu pensamento em algum lugar.

Regime

ela está na dieta dos sonhos. se alimentando de desejos. cada vez emagrece mais...

placa do caminhão

Confiança: eu vou a luta!

felicidade

O que ela sempre achou que era Felicidade, enfim se denominou Euforia. A Felicidade não existia e tampouco era importante. O que preenchia seu vazio? Nada claro! A não ser essas baboseiras que os tolos consomem acreditando como algo MUITO IMPORTANTE. Ou alguns medicamentos que a fazem esquecer que o mundo existe.

homenagem

faz parte do meu show ser quem eu sou.

sorte

a sua única chance, é se dar uma chance.

Memórias de Maria - Desafeto

Após 04 semanas envolvida em noitadas intermináveis regada por muita bebida, sexo e drogas, Maria, influenciada por seu Terapeuta marcou uma sessão com um Psiquiatra.


Antes de sair, tomou um banho, secou o cabelo, se maquiou, vestiu uma linda blusa rosa choque e pulseiras douradas. “Se serei internada por um surto psicótico, que seja bem vestida” – pensou ela antes de sair.

Dentro do taxi e bastante atrasada, lembrou que não havia comido nada até àquela hora da tarde, mas se certificou que seus Frontais estavam dentro da carteira. “Vou precisar” – pensou, enquanto imaginava que os médicos a agarravam e levavam ao hospital psiquiátrico mais próximo.
Chegou ao tal lugar em Botafogo. Uma linda casa antiga, e um homem dos seus 50 anos, com barba e segurando um cachimbo disse pra ela entrar.

Dentro da pequena sala, ele disse:
_ Vi que você estava fumando lá fora – disse ele - Você pode fumar aqui. Eu fumo cachimbo. Aqui está o cinzeiro.
Enquanto sentava, Maria disse: “Nossa, que ótimo! Nunca os terapeutas deixam fumar...”

Antes de terminar a frase e enquanto se acomodava na cadeira, seu novo Psiquiatra contava que era um ex-fumante compulsivo, que só largou o cigarro, pois passou a fumar cachimbo. Contou também que era ex-alcoólatra, ex-maconheiro, ex-usuário de acido e que só não usou heroína, porque “Graças a Deus!” – disse ele – “Nunca apareceu na minha frente. Senão teria usado. E você sabe... Década de 70...”

Após o depoimento do psiquiatra dependente químico, Maria começou a descrever sua vida com as drogas que se iniciou quando tinha 15 anos e que hoje aos 34 ela se sentia cansada, sem perspectiva de futuro, sem animo com a vida e com medo de ter tido um surto psicótico após este ultimo final de semana quando virou a noite de sexta pra sábado tomando vários ectases e a noite de sábado pra domingo cheirando cocaína. E que isso somado ao fato de que ela usa remédios antidepressivos e ansiolíticos diariamente, estava achando que sua lucidez estava chegando a um limite muito tênue com a loucura. Que se sentia estranha... que será que ela...

Foi cortada imediatamente pelo Psico-psiquiátra:

_ Maria, você não está em um surto psicótico! – disse enfático e deu uma baforada no cachimbo.

Pausa.

Maria acendeu mais um cigarro.

O Psiquiatra olhava pra ela e aparentemente pensava em alguma coisa.

Como não disse nada, Maria continuou:

_ Sabe o que me assusta? É que o que vi nestas últimas semanas é que está todo mundo assim. Independente de ser artista, amigo de artista ou celebridade. Os advogados estão assim, os economistas estão assim, os administradores, empresários. Sexta a noite rodei por vários lugares. Da Lapa enlouquecida ao careta Espelunca Chique, e todo mundo estava drogado. Estive muito tempo fora do circuito por causa dos meus 10 anos de casamento. E o que vejo agora é uma total descrença na vida. Um tanto faz. Esta geração de 30 não tem nada a dizer! Foram forçados a aprender a ganhar dinheiro, forçados a fingir que são felizes, forçados a criar uma máscara para sobrevier. E se você pensar, caramba! Eles são filhos de vocês... Que como bem lembrou... Ah.. A década de 70! O que isso gerou? Nada. Nada. Quando essa galera se liberta das máscaras não sobra nada. Isso aliado a essas drogas fáceis... Tudo ficou possível de se comprar. Eles compram a noite. O céu é o limite. Ou não. Nada mais tem limite. Não sei... Minha mente não consegue formular muito bem tudo isso que vi. Estou nesse limite que te falei. Acho que o ectase junto com os remédios podem ter desencadeado um surto psicótico em mim....

Foi cortada novamente pelo Psiquiatra:

_ Maria, você não está em um surto psicótico... – disse dessa vez mais calmo. Deu mais uma baforada no cachimbo.

As ações se repetiam. Uma pausa e Maria acendeu mais um cigarro. O Psiquiatra olhava pra ela e aparentemente pensava em alguma coisa. Maria ia continuar sua tese sobre o século XXI e a juventude sem futuro quando ele disse:


_ Maria, fora este seu lado racional dominador, como você SENTE a vida? – perguntou o Psiquiatra.

_ Eu sinto muito...

Ele riu.

_ ... mas, eu sinto muito em sentir muito. Esse é o problema. Não agüento o que sinto. Minha inteligência decifra muito rapidamente o que sinto e quando vejo já estou vendo lá longe e tudo perde o sentido muito rápido. Viver é um fardo. As drogas me ajudam a suportar tanta banalidade.

Pausa. O que viria?

_ Bom, Maria, e como é o sexo pra você?

_ Normal. Transo careta ou bêbada. Claro que dependendo do estado que estou o sexo é diferente. Mas faço tudo conforme deve ser feito. Encaro a personagem que pedem que eu seja ou devo ser. Transo com homens, mulheres e os dois juntos. Ou tudo junto. Depende... Gosto mais de transar com homem, Mas... Bom: segundo problema moderno que me perturba: não tem homem, sabia? Mas não vamos entrar nesse assunto agora. Nosso tempo é curto. Deixa que falo disso com meu Terapeuta. Vamos voltar ao meu problema com a dependência química e minha crise existencial com a vida. Ou sei lá se tudo isso não é a mesma coisa.

_ Maria, sinto lhe informar que você não tem um quadro de pessoa depressiva, você não se enquadra num quadro de viciada, portanto, Maria acho que seu problema é que você está levando a vida muito a sério. O problema não é a vida, Maria. O problema é como você enxerga a SUA vida! Mas isto você deverá se aprofundar com seu Terapeuta. Como você bem disse, nosso tempo é curto. Por hora o que posso fazer por você é te receitar um outro antidepressivo. Um que possa ser consumido concomitante com o álcool.

_ Mas, doutor Carlos, se eu vou tomar um remédio que vai me permitir continuar bebendo, fumando e me drogando, pra que eu preciso do remédio? Eu quero um remédio que me controle!

_ Você não precisa de mais nada pra te controlar além de você mesma. Você é o auto controle em pessoa. Um trator que passa por cima de você mesma. Como agüenta Maria? Pensa nisso, pensa. Nos veremos dentro de um mês.

Enquanto abria a porta ele apenas disse que se o novo remédio causasse algum efeito colateral que era pra Maria ligar pra ele. Mas depois de mais uma baforada no cachimbo e um sorriso, disse:

_ Bom, Maria, mas com a quantidade de drogas que seu corpo está acostumado a ingerir, não acredito que você venha ter qualquer efeito colateral. A gente se vê em breve. Ah.. E converse com seu Terapeuta...”

Acenou e fechou a porta sorrindo.

Maria saiu andando pelas ruas de Botafogo, lembrando que ainda não tinha almoçado e já era noite. Mas precisava sentar pra fumar um cigarro, tomar um café antes de enfrentar o trânsito na Rua Jardim Botânico de volta pra casa.

(...)

Maria chegou em casa exausta. Ligou pro Terapeuta que não podia atende-la. Ligou para alguns amigos e soube que haveria uma nova noitada. Resolveu descansar no sofá e ler o jornal para tentar abstrair sei lá do que.. Que tipo de informação recebeu nesta última hora de vida.